A Comuna Dzerzhinsky:
Nascimento da Indústria Soviética de Câmaras de 35mm

LEICAS SOVIÉTICAS

Finalmente, na Estrada para Existência Makarenko escreveu, 'Em 1932 estive  na comuna, e disse : "Estamos  produzindo Leicas!" Foi um Chekista  que disse isso, um revolucionário e operário, não um engenheiro, óptico ou técnico projetista [27]. Numa cronologia escrita para o quinto aniversário da Comuna Dzerzhinsky (celebrado em 29 de Dezembro de 1932), Makarenko foi consideravelmente mais específico: em 2 de Junho de 1932; o plano para a produção das câmaras Leica havia formalmente começado; em 21 de Junho, um departamento experimental especial para o fabrico de Leicas estava estabelecido na comuna [28].

Como exactamente a comuna decidiu sobre a Leica pode nunca ser conhecido, mas  é absolutamente claro. Em 1936, Makarenko escreveu, 'O fabrico de produtos no sentido da  auto suficiência, as câmaras FEDs e as furadeiras eléctricas, é acima de tudo uma luta em direcção a independência econômica da nossa terra [29]. Pressionados pela necessidade de um novo tipo de câmara, mas não querendo importa-las, os Russos decidiram; eles fariam as suas próprias 'Leicas Sovieticas'.

Em 26 de Outubro de 1932, a primeira de três Leicas Soviéticas eram completadas [30]. A nova câmara era primeiramente descrita na edição do jornal, Izvestiya  de 5 de Novembro de 1932. É fato que o feito era ponto de referência no conceituado órgão oficial do governo Soviético  e exibições que se seguiam, ressaltavam o elevado grau de importância do acontecimento. As câmaras eram uma exata cópia da Leica I, completa, com telêmetro acessório. Os Russos podiam ainda não ter conhecido a Leica II que tinha acabado de ser introduzida no mesmo ano com o telêmetro já acoplado à lente.

 

Figura 12. 'A primeira Leica-FED Soviética’ era o cabeçalho para esta fotografia em 'Proletarskoe Foto', Janeiro/ Fevereiro de 1933.

Fig 12a: Foto publicada em "USSR em Construção" Jan 1933.

Fig 12b:  Imagem de réplica FED ORIGINAL cortesia de "DVD Technik"

Fig 12c:  Réplica dourada da FED Original feita em 2002 / 70° aniversario da primeira FED.Completa com telêmetro externo.

As câmaras eram referidas apenas como Leicas Soviéticas no artigo do Izvestiya, embora nas tampas das lentes das duas câmaras demonstradas estava escrito FED-Khar'kov.  A qualidade destes novos produtos  'Leicas da Comuna' eram louvadas; o escritor entusiasmadamente exclamou: 'O Instituto Óptico de Leningrado’, tendo examinado as lentes, as reconheceu como seu " mais alto ponto de qualidade quando em comparação com idênticas lentes estrangeiras" [31]. O 50 mm f3,5· Anastigmat destas primeiras câmaras eram feitas em Leningrado na Fábrica Experimental da Associação da Indústria Óptica de Toda União (VOOMP) em cooperação com o Instituto Estatal de Óptica (GOI), também em Leningrado [32].

Figura 13. K. Kuznetsov: Dois membros do comunal novo. Câmara fabricada no primeiro dos lotes de  produção câmaras. (de 'USSR em Construção, Abril de 1934).

fig 13a : Exemplar de FED das primeiras 1000 produzidas.

Note-se nesta foto o acabamento da mesma. Forração em borracha rigida corrugada. (Pelo menos com 10 anos de antecedência à técnica usada pelas Leicas do pós guerra). Existiam também exemplares com revestimento em celulóide liso (exemplo acima) e couro verdadeiro. É interessante observar, não havia sapata porta accessório e as peças externas eram modeladas manualmente. No exemplo demonstrado, notam-se nitidamente s deformações do martelo sobre chapa de metal amarelo em forma de ferro. Este modelo, é recebeu uma zincagem brilhante com formação granular o que confere uma especial singularidade ao produto e demonstra o esforço em se conseguir uma grande qualidade do produto com recursos escassos. Haviam também versões laqueadas em preto e niqueladas. Era um período de experiências.

Fig 13 a-1: Outra foto da mesma câmara n° 440

O mundo da fotografia mundo conheceu as novas FEDs, como elas seriam logo chamadas, pelas páginas de Proletarskoe Foto [Foto Proletario]. Um artigo na edição de Janeiro/ Fevereiro de 1933 declarava, 'Aqui Temos é uma  Leica Soviética!' Aqui, a nova câmara era louvada.  Afinal de contas, um fato assinalável para a Indústria Soviética, e especialmente para a Comuna Dzerzhinsky. Anomalias de funcionamento eram practicamente ausentes, e o produto era de alta confiabilidade o que as levou rapidamente a uma excelente aceitação. Os retratos se  mostravam muito familiares, olhando câmara, a base e o  topo eram  pintados em negro, a lente o foco e o bloqueio de infinito acabados em metal niquelado.

Um engenheiro familiar com a nova câmara, anseio de todos os fotógrafos ofereceu sugestões para ajudar a comuna em seu novo desafio. Ele escreveu, 'A Leica é uma câmara indispensável para o fotógrafo rápido, fotojornalistas, turistas e cientistas. A sua versatilidade, tamanho compacto, facilidade de utilização, capacidade de exposições e pouco peso, combinado com as qualidades ópticas de sua lente, gama de velocidades, nitidez  de imagem, obturador de cortina e numerosas outras virtudes prometem a FED enorme popularidade e uma ampla gama de aplicações [33].

A comuna dedicou o ano de 1933 para planejar e preparar a produção da câmara FED enquanto que o fabrico de furadeiras eléctricas continuava em seu andamento normal. O desafio para a comuna era um obstáculo a transpor;  fazer uma Leica teria muito mais  exigências do que fazer cadeiras em madeira ou mesmo as furadeiras eléctricas. Com cerca de 300 partes, tolerância a um Micron (o milésimo de milímetro) e exigências de conhecimentos ópticos, nada semelhante a Leica  alguma vez tinha sido feita na antiga Rússia. Técnicas novas tinham de ser implantadas e muitos novos equipamentos tinham de ser preparados. Um detalhado plano de produção e financeiro era delineado com supervisão e considerável ajuda do Instituto Estatal de Óptica. Para a produção da nova câmara era necessário iniciar nova construção para abrigar a fábrica, esta era planejada para uma capacidade de 30 000 câmaras por ano. As  cópias de Leica I permaneceram apenas como uma produção piloto e em finais de 1933 um total de apenas 30 unidades tinham sido feitas [34].

As primeiras 10 unidades da nova produção de FEDs, eram numeradas de 31 a 40, e eram entregues em Janeiro de 1934 [35]. As lentes para estas câmaras, ao contrário das anteriores, foram também fabricadas na própria comuna. A nova FED foi primeiramente apresentada em USSR em Construção no mês de Abril de 1934, numa edição dedicada para 'A Comuna de Trabalho OGPU’. No cabeçalho de uma página de fotografias se lia, 'Estes jovens da comuna de trabalho estão a produzir  um novo  aparelho fotográfico, são os mais delicados e exatos mecanismos e ópticas do tipo da "Leica". Considerando a data desta edição, a câmara demonstrada deve ser um dos primeiríssimos exemplos. As novas FEDs eram agora diretas cópias de Leica II, exceto pela falta de uma sapata de acessórios. O exemplo mostrado em ‘USSR em Construção’ é notado pelo telêmetro ligeiramente mais alto e um revestimento em celulóide cobrindo o corpo  da câmara. Uma sobrevivente destas primeiras FEDs ( No. 279) tem a mesma cobertura lisa de celulóide, mas o resto da câmara é acabada em pintura negra , e o  telêmetro é de medidas normais. É provável que entre os primeiros exemplos, alguns foram modelos de experimentação.

Figura 14. FED Nº 279 (1934), do primeiro ano de produção.

Ao lado detalhe da gravação e tampa original

 

Aparentemente a comuna teve dificuldades em achar um acabamento adequado  para as partes de metal visíveis da câmara. Numa carta para Gorky em Junho de 1934, Makarenko escreveu, 'Praticamente, as "Leicas" ("FEDs " ou "Fedka" como nós as chamamos) que agora produzimos não apresentam defeitos. Apenas o segredo da laca ainda nos ilude. Quando ultrapassarmos este contratempo a FED será realmente elegante e terá uma grande aparência, a comuna sonha que você quererá uma delas; isto é, afinal de contas, uma das "nossas realizações" [i.e., incluindo ‘Gorky'] [36]. Uma outra solução era adotar um invulgar brilho no acabamento da chapa de latão, na realidade praticamente uma aparência de galvanizado. Tal acabamento é o que encontramos em outro exemplo primitivo (FED No. 922) que também possui couro como cobertura. Uma destas primitivas câmaras é mostrada em Trabalhos de Makarenko [37]. Câmara No. 4049: idêntica a No. 922. Ambas destas câmaras levam numerosas marcas de conformação manual no acabamento, especialmente na caixa do visor e telêmetro.

Estas produções iniciais das FEDs são caracterizadas pela falta da sapata de acessório, pela janela do visor em forma de escada e pelo grande disco de  velocidades. As velocidades da cortina incluíam seis parâmetros de 1/20 para 1/500, mais 'Z' ( bulbo). O  cimo da caixa do telêmetro trazia gravado  FED/Trudkommuna/im./F. E. Dzerzhinskogo/Khar'kov [FED, F. E. Dzerzhinsky Comuna de Trabalho, Kharkov] e na lente era gravado FED 1:3,5 · F=50 m/m num estilo que permaneceu virtualmente inalterado nos próximos 20 anos. A escala de aberturas incluíam seis parâmetros de f3,5· para f18.  A produção total em 1934 foi de 4000 câmaras [38].

Figura 15. Mapa da Comuna Dzerzhinsky em 1935. As câmaras eram fabricadas nas duas construções da frente e a direita. (o modelo FED standard e a FED-S bem como os accessórios, Makarenko, 'Marsh 30 Goda' [ a marcha dos anos 1930], Prosveshchenie, Moscovo, 1967.)

 

Nestes anos de 1934 e inicio de 1935 ainda os corpos das câmaras FED eram conformados manualmente, logo depois passaram para a conformação por estamparia.

 

FAG E PIONIR


Desta vez, a Fábrica Experimental VOOMP [VOOMP Opytnyi Zavod], que havia feito as lentes para as FEDs originais (sem telêmetro acoplado), decidiu fazer suas próprias versões de Leicas Soviéticas [39]. As suas primeiras câmaras, feitas em 1933, eram exatas duplicatas da Leica I, como foram também as primeiras FEDs, mas estas câmaras receberam pequena atenção, e possivelmente apenas alguns exemplares foram feitos. Em 1934, contudo, a fábrica começou algo mais sério, a produção de cópias de Leica II, que agora recebiam o nome Pionir [Pioneira]. Suas lentes de 50 mm f3,5· , possivelmente idênticas as da FED, eram gravadas VOOMP Opytnyi z-d 1:3,5· F=50 mm. A produção de 300 câmaras eram previstas para 1934 com um plano de 5000 conjuntos para 1935. Contudo, o projeto foi abandonado, e é improvável que mais do que algumas centenas tenham sido feitas.

Simultaneamente com o FED e Pionir, ainda um terceira fábrica começava a produção de Leicas Soviéticas. A Geodeziya Zavod [Fábrica Geodésia] em Moscovo distribuía os primeiros 50 exemplos de sua cópia de Leica II no início de 1934 [40]. A única diferença observada entre esta câmara (como demonstrada em Sovetskoe Foto) e a Leica/ FED/ Pioneiro era o seu visor com janela retangular com um parafuso sobre a face frontal. A base e o cimo dos primeiros exemplos eram de chapa niquelada, com crómio planejado para modelos posteriores. A lente, produzida por VOOMP em Leningrado, tinha gravado VOOMP Z-d Geodeziya 1:3,5· F=50 mm.

Em meados de 1934, esteve esperava-se que o total da produção da Leica Geodeziya [futura FAG] alcançaria 300 unidades neste ano e 1500 para 1935. No início de 1935, introduziu-se de um modelo com dorso destacável [41]. Os projetistas da Geodeziya esperavam incorporar vários melhoramentos para o sua câmara, incluindo o telêmetro/visor combinado, O projeto Pionir, era um mdelo aparentemente favorável a FED mas paralisou antes de que alguns centenas de câmaras fossem fabricadas. O nome geodeziya é em Russo palavra para geodésia  que são instrumentos para agrimensura , que a fábrica normalmente produzia. Inicialmente a sua câmara não tinha nome, assim a Sovetskoe Foto convidou os leitores para que dessem para uma câmara Soviética um nome que fosse tipicamente de um militante Soviético [42]. O resultado foi acrónimo 'FAG' [43], de Fabrika Apparaty Geodeziya.

Algumas notícias das câmaras Pionir e FAG existiram fora da União Soviética; ambas eram relatadas na edição de Março de 1935 da revista Polaca  Fotograf Polski, embora não sejam de nosso conhecimento a existência de exemplos sobreviventes.

       

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